Que as impressoras 3D estão revolucionando o mundo da tecnologia não é segredo nenhum. Por sua praticidade, eficiência e rapidez, a tecnologia de impressão 3D pode ser aplicada com sucesso nas mais diversas áreas, como educação, ciência, arte, design e até mesmo acessibilidade.
Quer saber como? No post de hoje, nós vamos explicar como essa tecnologia 3D facilitou a acessibilidade com livros e celulares personalizados, entre outras coisas, às pessoas portadoras de deficiência visual. Confira:
Sobre o braile
Foi por volta de 1824 que o francês Louis Braille desenvolveu o braile, um sistema de leitura voltado para a acessibilidade de pessoas com deficiência visual. Seu alfabeto consiste em uma série de pontos em alto relevo, a serem lidos pela ponta dos dedos. Naquele tempo, cada ponto individual era adicionado à página por meio de um estilete, tornando a escrita em braile um processo altamente trabalhoso.
Hoje em dia, a tecnologia de impressão 3D já permite a integração ágil do braile em qualquer superfície, independentemente de sua forma ou tamanho. Isso facilitou a criação de diversos produtos acessíveis às pessoas com deficiência visual, como, por exemplo, mapas, quebra-cabeças e brinquedos. Outra área beneficiada foram os livros em braile.
Livros infantis ilustrados
Para as crianças com deficiência visual, aprender a ler o sistema braile é precisamente a prática de aprender a ler – daí a importância da existência de livros voltados para elas. Por meio da impressão 3D, foram desenvolvidos livros em braile com imagens em alto relevo, o que permite às crianças acompanharem a história e, ao mesmo tempo, sentirem as figuras com as mãos.
Na página do projeto Tactile Picture Books, idealizado por Tom Yeh, é possível encontrar uma biblioteca on-line com modelos 3D táteis de livros infantis para download (em inglês). Alguns dos livros disponíveis são A arca de Noé, The Very Hungry Caterpillar, de Eric Carle, e Harold and the purple crayon, de Crockett Johnson. Outras ideias desenvolvidas pelo projeto são revistas em quadrinhos e livros escolares táteis.
A técnica funciona assim: por meio da impressão 3D, as ilustrações comuns dos livros infantis – forma física dos personagens, cenários e objetos determinantes para a história, por exemplo – foram transformadas em modelos táteis de três dimensões, que estimulam as crianças com deficiência visual enquanto pais ou professores leem a história.
De acordo com Yeh, o objetivo para o futuro é desenvolver um software que permita transformar automaticamente fotografias de desenhos de livros infantis em formas 3D, para imprimir em casa.
Uma iniciativa semelhante é o livro tátil Discover the Body (“Descubra o corpo”, em português), criado pela artista plástica islandesa Halla Sigridur Margretardottir Haugen. O material educativo, direcionado para as crianças portadoras de deficiência visual de 6-8 anos de idade, apresenta a anatomia do corpo humano por meio de figuras em alto relevo, a partir da tecnologia de impressão 3D.
Por suprir uma lacuna no mercado editorial, ou seja, livros educativos com figuras para deficientes visuais, o livro de Haugen ganhou destaque internacional.
Celular acessível em braile
Os celulares são ferramentas cada vez mais comuns no cotidiano dos brasileiros. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2014, divulgados pelo IBGE em abril deste ano, 77,9% da população de 10 anos ou mais faz uso do celular – o que equivale a 136,6 milhões de pessoas!
Apesar disso, os dispositivos móveis ainda deixam muito a desejar no quesito acessibilidade. Os smartphones mais populares no mercado geralmente apresentam apenas recursos simples de leitores de tela e configurações básicas de zoom, fontes e escalas de cinza. Alguns aplicativos gratuitos, como o CPqD Alcance, facilitam a navegação pelo celular com narração de tela automática e interface de acesso simplificado.
Foi pensando nessa lacuna do mercado e a demanda dos deficientes visuais que a OwnFone desenvolveu o primeiro celular voltado especialmente para portadores de deficiência visual no mundo, a partir da tecnologia de impressão 3D. O dispositivo, conhecido como OwnFone Braille, permite pré-programar até quatro números – de família, amigos ou serviços essenciais, por exemplo – para discagem rápida no menu principal, que é impresso em braile. Aos que não sabem ler braile, é possível personalizar o menu com impressão em alto relevo de símbolos ou letras escolhidas pelo usuário.
A tecnologia responsável pelo OwnFone Braille ainda aguarda patente, mas o celular já é vendido a £60 no Reino Unido. A ideia para os próximos anos é tornar o OwnFone acessível para comércio internacional.
Acessibilidade com impressão 3D a baixo custo
Pessoas portadoras de deficiência visual fazem uso diário de uma série de materiais táteis, como mapas, modelos e etiquetas em braile, e que geralmente são manufaturados ou de difícil aquisição.
A principal vantagem da tecnologia de impressão 3D aplicada à acessibilidade é que, uma vez desenvolvido um modelo 3D, ele pode ser replicado infinitamente a um custo bastante reduzido. Em outras palavras, a impressão tridimensional pode impactar diretamente a qualidade de vida das pessoas portadoras de deficiência, facilitando sua educação, profissão e bem-estar em todos os sentidos.
Um exemplo disso é o projeto do professor de matemática alemão Knut Büttner, da universidade Blindenstudienanstalt, voltada para pessoas com deficiência visual. O projeto de Büttner prevê a impressão 3D de formas geométricas, partes do corpo, moléculas e até mesmo de fenômenos visuais, como sombras. A ideia é utilizar a impressão 3D como ferramenta para educação, tornando conceitos palpáveis às pessoas com deficiência visual.
Outra iniciativa que ganhou destaque foi o projeto Touching the Prado, do Museu do Prado, na Espanha, que disponibilizou para exibição seis modelos impressos em 3D de suas maiores obras de arte. Na mesma linha, o experimento social Touchable Memories permitiu a pessoas que perderam a visão no decorrer da vida tatearem fotografias pessoais impressas com tecnologia 3D. Bacana, não acha?
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