A engenharia reversa não é algo exatamente novo, mas o termo está em evidência.
Ele descreve o processo de investigação utilizado para compreender os princípios tecnológicos que estão por trás do funcionamento de um dispositivo, objeto ou sistema.
Difícil encontrar quem nunca abriu um controle remoto ou mouse para tentar entender os motivos de um mau funcionamento.
Elevado a uma proporção muito maior, é justamente essa a proposta da engenharia reversa: descobrir quais tecnologias garantem o desempenho daquele produto.
Para saber mais sobre o tema e compreender como se dá a sua aplicação, continue na leitura deste texto.
O que é engenharia reversa?
A engenharia reversa é uma técnica utilizada para entender o funcionamento de um produto por meio da análise e investigação de suas peças, circuitos e tecnologias, quando não há documentos ou projetos originais disponíveis.
Ou seja, é preciso fazer o processo ao contrário, desmontando parte por parte, até que seja possível identificar cada componente, entender como ele foi confeccionado, os materiais e outros pontos.
Não é à toa que costumamos dizer que todo bom engenheiro foi uma criança curiosa um dia.
Isso porque qualquer pessoa que, na infância, desmontou um controle remoto, radinho de pilha ou brinquedo, deu ali seus primeiros passos na engenharia reversa.
De fato, a engenharia reversa faz parte dos instintos humanos de curiosidade e engenhosidade.
Aos poucos, o conceito foi se firmando como forma de investigar os produtos da concorrência ou criar os seus próprios a partir das necessidades verificadas.
No meio industrial, a engenharia reversa ganhou bastante espaço nos últimos anos por apresentar um atalho para estudos de mercado e uma via rápida para a inovação.
Entenda como surgiu a engenharia reversa
Não se tem registro da primeira utilização da engenharia reversa, muito provavelmente porque ela se confunde com os instintos humanos de inventividade.
Estima-se que os primeiros usos de maneira competitiva foram no sentido de inspecionar equipamentos militares de adversários de guerra.
Nesse caso, o intuito principal era garantir a superioridade de um exército em relação aos seus inimigos.
Depois da Segunda Guerra Mundial, um boom de industrialização aos poucos se espalhou pelo mundo e a engenharia reversa, sob forma de espionagem industrial, tornou-se uma realidade em um mercado desregulado.
Quem usa engenharia reversa?
A engenharia reversa fez – e ainda faz – parte de diversos momentos históricos da indústria.
Foi por meio desse método que, em 1974, a AMD foi capaz de criar uma cópia exata do processador Intel 8080, o AMD Am9080.
Nesse cenário, o processo é relativamente óbvio: a AMD provavelmente comprou vários produtos da Intel, abriu e analisou seus circuitos para recria-los.
Nesse caso decorreu-se inclusive um processo legal entre as empresas pela fabricação sem licença. Mais tarde, um acordo foi firmado com a Intel para sua fabricação licenciada.
E citando um cenário ainda mais antigo, entre os anos 1915 e 1916, foi criado o soviético Tupolev Tu-4 a partir da engenharia reversa do Boeing B-29 Superfortress dos EUA.
Em plena Primeira Guerra Mundial, o aviador francês, Roland Garros, criou um sistema de placas metálicas defletoras para proteger as hélices de sua aeronave dos disparos de sua metralhadora.
Em Abril de 1915, Garros precisou realizar um pouso forçado atrás das linhas inimigas devido a falhas mecânicas do sistema da sua aeronave.
Ele tentou destruir todo o sistema do seu avião antes que os alemães os capturassem, mas não obteve sucesso.
O piloto conseguiu fugir dos inimigos de guerra mas, o sistema Morane-Saulnier Type L, de sua aeronave foi estudado por Anthony Fokker que, em resposta, criou um mecanismo sincronizador para metralhadoras que foi instalado no monomotor Fokker Eindecker
O mecanismo desenvolvido por Fokker permitia que a arma deste avião disparasse através das pás da hélice sem atingi-las.
Esses são apenas dois exemplos sobre como a engenharia reversa surgiu e vem sendo utilizada na indústria.
Hoje em dia, são diversas as situações em que a análise do funcionamento de um produto tem sido útil para resolver problemas e garantir a competitividade de uma empresa.
Como a engenharia reversa pode ser usada nas empresas?
Nas últimas décadas, a engenharia reversa ganhou espaço como uma ferramenta eficiente para empresas (industriais e de software) que desejam se manter competitivas no mercado.
Conheça abaixo alguns dos usos da técnica nesse contexto.
Benchmark
Nem sempre a engenharia reversa é feita com o intuito de copiar um produto.
Entender o quê a concorrência tem de melhor (e pior) e reposicionar-se no mercado, é uma forma inteligente de atingir mais competitividade.
Em alguns casos, o foco maior está no próprio processo de investigação das tecnologias e técnicas de design que estão presentes naquele objeto.
Assim, o profissional ganha com a análise minuciosa dos sistemas, pois aprende como outras pessoas foram capazes de resolver problemas semelhantes aos seus.
Várias vezes, entender como um produto é feito serve como inspiração para designers, programadores e criadores em geral desenvolverem suas próprias soluções.
Seja você parte de uma grande companhia ou de uma pequena, com a engenharia reversa, é possível estudar seus concorrentes e ainda se inspirar para suas criações.
Software
No caso dos softwares, a engenharia reversa esbarra frequentemente em uma dificuldade técnica quanto à programação.
Isso porque a maioria dos aplicativos comerciais não têm código aberto, o que significa que a empresa não disponibiliza o código-fonte que está por trás do seu funcionamento.
Nesses casos, o método encontra saída por uma análise menos técnica: avalia-se as funções e a interface do software para entender quais caminhos foram traçados para chegar até aquele modelo.
Controle de qualidade
Também existe uma aplicação da engenharia reversa que volta sua atenção para dentro da empresa.
Para garantir o controle da qualidade, a técnica pode ser usada para identificar a origem de erros e defeitos da produção.
Fazendo o caminho inverso, o profissional consegue reconhecer mais rapidamente as possíveis causas para as falhas detectadas.
Reposição de peças
Alguns produtos acabam por sair de linha e seu fabricante original pode não dispor mais de determinado componente do produto à venda, o que significa que a única maneira de fazê-lo é a engenharia reversa, em seguida, projetá-lo para produção.
Isso também se aplica quando a peça original é vendida a preços muitos altos, ou sua logística é difícil, nesse caso sua fabricação local se torna uma melhor opção.
Este é o caso nas Cervejarias do grupo Heineken que passaram a internalizar a fabricação de diversas peças com impressão 3D, através da engenharia reversa.
Cópias
É evidente que a Engenharia Reversa também tem sido aplicada para a fabricação de cópias de produtos.
No entanto, a utilização desta técnica em um objeto patenteado, acaba por infringir a referida patente (como no já citado caso da AMD).
Neste sentido, se apenas uma parte do componente é patenteado ou o item não possui patente, a duplicação é um meio lícito.
A engenharia reversa é crime?
A resposta simples para essa pergunta é: depende do caso.
Apesar de a engenharia reversa em si não ser um crime, ela certamente pode ser utilizada para práticas criminosas.
Tudo depende do tipo de uso que será feito – educativo, estudo de mercado ou intenção de cópia – e também do eventual registro de patente da tecnologia em questão.
A pirataria de muitos produtos, por exemplo, utiliza da engenharia reversa para obter especificações e projetos e criar cópias ilegais de um produto que tem direitos reservados.
Desse modo, tudo depende da legislação local e das intenções que levaram à escolha desse método.
Métodos e equipamentos para engenharia reversa
Para reproduzir um modelo 3D a partir de uma peça ou produto, algumas ferramentas podem ser utilizadas, para que assim, seja possível prosseguir com as análises ou mesmo detalhamento, alterações e melhorias para fabricação.
Confira abaixo alguns métodos e equipamentos utilizados na engenharia reversa.
Medidores tradicionais
Para ferramentas que envolvem a criação de um projeto ou documento, a engenharia reversa originalmente oferecia alternativas convencionais para medição e testes de usabilidade.
O bom e velho paquímetro, assim como a régua, são ferramentas tradicionais de medição usadas até hoje para engenharia reversa, dependendo do nível de complexidade da peça.
Originalmente, para os testes funcionais de um projeto, era necessário colocar a peça à prova, para exercer as práticas às quais ela seria submetida, e assim verificar seu desempenho.
A falha nos testes significava que o projeto não estava 100% preparado para sua funcionalidade, e assim, eram feitas mais alterações no projeto e testes, até a sua aprovação.
Scanners 3D
Hoje, muitos engenheiros usam tecnologias de digitalização 3D para fazer as medições necessárias para engenharia reversa.
Com scanners tridimensionais, os engenheiros podem obter leituras precisas das especificações do produto e ter essas informações registradas automaticamente em seus bancos de dados.
As tecnologias de digitalização 3D incluem máquinas de medição por coordenadas (CMM), scanners industriais de tomografia computadorizada (CT), scanners a laser e digitalizadores de luz estruturados.
A reprodução em 3D adquirida através de um scanner, pode ser integrada com software CAD, facilitando a re-projeção das peças e tornando o processo mais ágil e preciso.
Software CAD
O software CAD permite a realização de alterações no projeto digital de maneira mais fácil para engenharia reversa.
Muitos softwares oferecem recursos de simulação numérica e renderização com precisão total, e são compatíveis com equipamentos de fabricação digital como impressoras 3D para validar o projeto rapidamente.
Alguns softwares ainda possuem ampla gama de parâmetros que simulam resistência à força ou à temperatura, antes que qualquer modelo físico tenha sido criado, permitindo um fluxo de trabalho muito mais rápido e mais barato.
Impressoras 3D
A engenharia reversa tem recebido cada vez mais atenção com a popularidade cada vez maior da impressão 3D.
Embora não seja exatamente considerado parte do processo de engenharia reversa, reproduzir o objeto analisado ou modificado se tornou muito mais fácil com as tecnologias de impressão 3D.
Afinal, você só precisa de um modelo digital para materializar o projeto e tê-lo em mãos.
Isso ocorre porque a reprodução de um objeto ou design agora é tão acessível por meio da impressão 3D em comparação com outros processos de fabricação, especialmente com o uso de modelagem digital (ou seja, CAD).
Especialmente em setores de pesquisa e desenvolvimento, a impressora 3D pode ser utilizada como ferramenta de prototipagem rápida.
Muitas empresas que precisam produzir mock-ups (unidades de teste) dos seus produtos com agilidade para avaliação antes de lançar um determinado item no mercado, utilizam a tecnologia como um trunfo no processo de desenvolvimento de produtos.
Conclusão
Com a engenharia reversa, profissionais de diversas áreas têm uma ferramenta importante de aprendizagem e estudo da concorrência.
Bastante utilizada dentro do contexto industrial, a metodologia permite entender os mecanismos que estão por trás do funcionamento de um objeto.
Assim, é possível garantir a competitividade da marca, promover um estudo da concorrência e até solucionar problemas recorrentes.
Para saber mais sobre engenharia reversa e outras ferramentas relevantes, continue acompanhando nosso blog.
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